mardi 29 avril 2008

"Hélas! hélas! l'oiseau qui fuit ce qu'il croit l'esclavage..."

Enquanto fazia tempo para me encontrar com T. em frente à Bibliothèque Historique, entrei na Église Saint-Paul - Saint-Louis na rue de Rivoli. Isto é parvo, mas agora não consigo entrar numa igreja sem que comece logo a ouvir na minha cabeça a Manon a cantar "Pardonnez-moi, Dieu de toute puissance!..."
Gostei da exposição (Les Parisiens sous l'occupation), incluindo o monsieur que gritava que aquilo tudo não era mais que revisionismo enquanto um responsável discursava para a televisão. Troco sempre impressões interessantíssimas com T. Pena que ela se tenha ido embora logo em seguida.

Jeunes fillettes, profitez du temps...

A árvore que existe em frente à minha janela está coberta de folhas. C'est à dire adeus Périphérique!

jeudi 24 avril 2008

[Ficções] Grand Hotel II

- Acho que ainda não fomos oficialmente apresentados.
Isto disse uma jovem mulher vestida de branco enquanto me estendia a mão, expressão facial afável mas a dar ares de desempenada. Deviam ser nove horas e meia da noite, o sol já não brilhava. A sala de leitura do fundo do corredor apresentara-se convidativa - em grande parte devido à luz amarelada dos seus quebra-luz - e nela me decidira instalar, um livro desencantado nas estantes nas mãos.
As apresentações foram feitas, já que a recém-chegada o exigia. Fiquei a saber que na verdade era eu o recém-chegado e o seu nome era Simone.
- Como a de Beauvoir, está a ver?
Pouco depois surgiu uma outra jovem, evidentemente em busca da primeira. Era Maria Ana, amiga de Simone. Quase se podia dizer sua irmã, ou até mesmo gémea, tais eram as parecenças, mais no que dizia respeito ao vestuário, postura, trejeitos e modo de locomoção do que em traços físicos (e psicológicos, como viria a descobrir). Maria Ana envergava também um vestido branco pelos joelhos, revelou-se porém mais natural nas apresentações: demonstrava uma genuína vontade de ser agradável para comigo, o recém-chegado.
Falaram as duas em voz baixa, não se importando muito com a minha presença. Foi o momento de um homem novo, de cabelos louros e olhos pequenos e aparentemente vigilantes, fazer a sua entrada. Disse um "boa noite" sumido (a que as jovens responderam de maneira simpática) e deixou o olhos varrerem o aposento. Antes de encontrar o que procurava deu pela minha presença, e um sorriso e saudação igualmente sumidos foi o que me concedeu, para se devotar de novo à sua inspecção. Deteve-se com uma exclamação surda e um meio-sorriso aliviado. Seguindo-lhe o olhar, acabei por entender que era o livro de fórmulas esquecido o que procurava. Recolheu-o de modo carinhoso, como se tudo dependesse daquele volume, e voltou-se para sair.
- Já vais, Jorge? - perguntou Maria Ana, interrompendo brevemente a sua conversa com a amiga. O jovem do livro estacou, virou-se e pela expressão do rosto percebi que não se sentia muito confortável. Deu uma explicação atabalhoada que terminou em "bem, até amanhã" e saiu.
Elas deixaram-se ficar, mantinham a sua conversa a meia-voz. Pouco depois, como se alguém as relembrasse da minha presença, sentaram-se junto a mim e rodearam-me de palavras.

lundi 21 avril 2008

Remarque frivole

Ainda bem que troquei a t-shirt amarelo-post-it pela t-shirt verde-vivo. As cores importam.

Daqui a pouco vou à Île Saint-Louis.

Les vacances de Pâques

A minha entrada em férias correspondeu a um início de desregramento total.
Ontem encontrei finalmente a versão teatral de L'Arlésienne de Daudet. Ilustrada e com letras bem grandes, mas não interessa, tenho-a.
À noite, depois do jantar, houve jogo de perguntas e respostas chez A.. Cada um escreveu uma série de perguntas, colocou-as em seguida num saco, para serem retiradas e lidas aleatoriamente. Foi algo diferente e um pouco inesperado (até por causa do grupo que me rodeava). Mas até gostei. Foi difícil ter de dizer o que me mais detestava nas pessoas com quem me sento habitualmente à mesa, mas também acabei por ouvir coisas um tanto ou quanto lisonjeadoras. Experiências, experiências...
(Ah, já agora, caro leitor, bailado de Morte em Veneza em Châtelet, uh uh!)
Gosto quando M. diz que tenho um ar querido quando acordo e me abraça. Não entendo os sorrisos de J. Por que é tão difícil encetar conversações com algumas pessoas? Gosto de dramatismos e comportamentos alheados.

mercredi 16 avril 2008

[Ficções] Grand Hotel

Há quem considere a "Grand Hotel formula" completamente ultrapassada.
Uma luz laranja de sol, risos de crianças ao longe, mergulhos numa piscina. Era algo de difuso o que envolvia o quarto em que pousei as minhas duas malas naquela tarde.
Numa pequena exploração, verifiquei que aquela ala do hotel parecia um pouco deslocada do resto. Não se ouviam ruídos, alguém a falar, uma porta a bater, nada. Ao fundo do corredor, uma porta envidraçada de dois batentes. Aparentava ser uma sala de leitura ou convívio. Agradável e clara, um certo odor a tabaco. Aberto, sobre uma poltrona perto de uma janela, alguém deixara um manual de fórmulas indecifráveis.
Aproximei-me dessa mesma janela, entreaberta, inspirei o ar da tarde. Relvados rodeavam o hotel.
Não sabia bem o que ali estava a fazer, a desculpa de um casamento parecia demasiado fácil, demasiado ridícula. O que era aquela luz laranja e morna? O que era aquela corredor obscuro, aquela sala de leitura vazia?
O resto da tarde preenchi-o com um passeio pelos terrenos, o facto de estar um pouco aturdido pela viagem não permitia ir mais longe.
Foi à noite que os encontrei.

lundi 14 avril 2008

Mon stalker

Existe. Mora no rez-de-chaussée e lança-me uns olhares terríveis.

Le dimanche soir

Isto começa a tornar-se crónico: postar em alturas de crise ou semi-crise. Estou a odiar verdadeiramente Monsieur Dubois.
À plus,
le Chevalier

mercredi 9 avril 2008

"et desservira toutes les gares..."

Reparei logo nisto: os quadros nas gares do RER que mostram as estações desservies através de pequenos quadrados cor-de-laranja lembram-me a máquina de lavar roupa de casa do meu avô.

Photographie

Há dois dias atrás N. descobriu uma foto de uma festa em que se vê M. e D. todos amigos e felizes. N. riu-se e fez comentário irónico-depreciativos. Exactamente porque M. e D. não são assim tão amigos.
Isto lembrou-me uma produção de Lucia de Lammermoor (Donizetti) na Metropolitan Opera de Nova Iorque em Setembro último. A acção foi transposta para o século XIX e na cena da festa de casamento puseram um fotógrafo que ia registando grupos e expressões que não correspondiam à realidade. (A Lucia é obrigada a casar com um homem de quem não gosta.)
A fotografia, a fotografia...

lundi 7 avril 2008

La neige

Nevou durante a noite. De manhã estava sol. Quando fui à janela da cozinha vi alguns telhados e relvados da Cité cobertos de neve. Foi bonito.
Agora todos perguntam uns aos outros se viram a neve.

dimanche 6 avril 2008

Costa Nova

Elle me manque. Beaucoup.

vendredi 4 avril 2008

Le soir

Devia arranjar uma cronologia dos presidentes da República Francesa, vi no outro dia que uma estrangeira tinha uma. Seria muito útil para Vie politique et société française.
Ontem decidi aproveitar o fim de tarde. Estava sol. Saí do teste de Europeus, apanhei o metro e depois o RER até ao Musée d'Orsay, que há muito andava para visitar. Não me apetecia ir para casa e o d'Orsay é gratuito às quintas-feiras a partir das 18h para estudantes. Adoro os dias compridos do horário de Verão. Sair do metro mesmo à beira do Sena com tanta luz, as Tuileries do outro lado... Renovava os meus votos de amor a esta cidade.
Fiz tempo até às 18h deambulando pela zona, até ao boulevard St. Germain. Constatei que a rue de Lille parece o sítio ideal para uma cena bem romântica.
O museu. Grande, a galeria central cheia de luz. Visitei todo o rés-do-chão, sempre descobrindo novos recantos com obras expostas. Andei por lá umas duas horas. Às tantas já eram quadros a mais, a cabeça doia-me, pensei em ir para casa. Saí. Verifiquei então que não queria ir para casa, apenas desejava o ar livre, aqueles tons de Verão demasiado aprazíveis. Gosto destes programas a dois, eu e a cidade, sobretudo quando esta acaba de ser agraciada com um pôr-do-sol limpinho. Caminho. Vou até à rue de Rivoli, decidira jantar no McDo, mesmo ao lado do Louvre. Um senhor simpático dá-me o resto dos seus guardanapos.
Continuo o meu passeio. As ruas prendem-me. Passo pela Comédie-Française, ao fundo da avenida está o sempre imponente Palais Garnier. Place du Palais-Royal. Continuando acabo por chegar à place du Châtelet, que, com os seus dois teatros, a coluna ao centro, a sua luz, não deixa adivinhar o horror escondido no seu subsolo. Continuo até à Île de la Cité, onde apanho o metro. Apetece-me fazer um caminho diferente para casa. Penso sair em Saint-Sulpice ("Où faut-il vous porter, cousine?" "À Saint-Sulpice!"), mas desisto da ideia, àquela hora não devo conseguir apreciar como desejo. Porte d'Orléans, o outro lado da linha 4. Apanho o tram até Cité Universitaire. Estou quase a chegar a casa quando me cruzo com um grupo de residentes. Convidam-me para ir com eles "beber uma cerveja". Fomos até Bastille, outros se nos juntaram depois.
Regressámos. Depois fiquei à conversa com N. até às 4h.
Talvez uma cronologia dos presidentes da República Francesa não fosse má ideia.

mardi 1 avril 2008

Le 1er avril

Tenho contrôle de Europeus e o Atlântico na quinta. Bah. Estou cansado, não me apetece estudar, daqui a pouco vou dormir. Abri o caderno e o fascicule de textos e verifiquei que talvez já não precisasse mesmo de estudar muito.
Hoje não fui à primeira aula, desliguei o telemóvel, baixei o som do despertador, pelo que quando este voltou a tocar, eu nem o ouvi. Acordei dez minutos antes da aula. Quando chego à porta da sala 117, encontro C. que também faltara à primeira aulas, se bem que para estudar ou pelo menos tentar. Na segunda aula vimos excertos de filmes franceses dos anos 30. Almocei com T. e C., ela adora contar histórias enfatisando todas as frases e gestos, adora contar piadas.
Depois das aulas T. e K. comentavam um cartaz que anunciava uma A.G. para amanhã. T. receia novas bloquages. Ui, isso é que seria!
Ao chegar a casa, encontro M. e N. com um italiano novo na cozinha. Os dois últimos desaparecem pouco depois, fico a conversar com M. Conhecemos C. e A., também novos residentes. Às tantas aparece S. e pouco depois M. E., que acaba por nos convidar por um passeiozinho pela Cité. Acabara por ficar horas a conversar com M. na cozinha. Quando saímos de casa, encontramos N. que regressa de um "encontro social de Erasmus" na faculdade. Pouco depois cruzamo-nos com D., que também se junta a nós. Eu, M. E., M. e N. ensaiamos um jogo da apanhada. Converso com S., nunca tinha falado tanto tempo com ela. Quando regressamos pede-me o mail.
O melhor do novo horário é o dias serem claramente mais longos.
Janto com N. Sei que a cozinha do segundo está cheia, nem lá entro. Agora estou aqui, após ter desistido de estudar e ainda não ter ido dormir.
Este post é de uma banalidade tremenda.