Observo-te enquanto preparas as refeições. És metódico, organizado, eficaz. Sei o que comes, o que preferes, o pormenor de lavares sempre uma tijela de tomates cherry.
Sento-me e observo-te e estranho-me ao descobrir que de outra coisa não sou capaz. Pelo menos naquele momento. Como se tudo, o absoluto, a perfeição se resumissem a ti a despejares o conteúdo de uma embalagem de ravioli numa panela de água a ferver.
Apercebes-te de algo? Pois, também não creio. Como consegues ser sempre tão só tu e tu a preparares a tua refeição, onde uns poderiam ler independência e outros prenúncio de misantropia. Mas divago. E tu não foste feito para divagar ou para divagarem acerca de ti. Porque és metódico, organizado, eficaz. És comedido no que dizes, no que fazes. Na verdade, esse teu absoluto, essa tua perfeição podem até nem ser verdadeiras, reais. Mas falta-me a pedra-de-toque. Quero-a? Sim?
Seria reconfortante. Ou não. Mas também não se pode pedir mais de uma pedra-de-toque.
Enquanto o teu garfo levado à boca continua a ser tudo, o absoluto, a perfeição.
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