jeudi 27 mars 2008

Chronique au hasard

Terminei o trabalho. Depois de muito stress. Estes últimos dias têm sido cheios.
A semana antes da Páscoa passou a correr, num quase desleixo. Quinta-feira amanheceu com alguma graça, soube-me bem tomar o pequeno-almoço com alguma calma, deixar o quarto arrumado e ir apanhar o autocarro para o aeroporto.
Sol em Lisboa! Luz, luz, muita luz! Espaço! Tenho andado com os olhos enevoados? Um misto de sensações, algo de irreal e deslocado me rodeava. Que estou eu a fazer ao pé da minha faculdade? Não, agora aquela não é a minha faculdade! Não estou de férias, mas porque não sinto que consiga ir às aulas na segunda-feira? Não, não! Há algo por acabar mais a Norte. É estranho estar em sítios que faziam parte do nosso quotidiano e de repente deixaram de o fazer. Revejo uma data de sítios nas minhas queridas Avenidas Novas numa só tarde.
Chegar a casa. Chegar a casa! A luz entra pelas janelas, ah, a sensação é a mesma, chegar a casa tem sempre o mesmo sabor. O meu quarto tem tanto espaço! Estranho a maneira como a água corre das torneiras e o peso da lagarta do chuveiro. Luz.
Passar por Cascais e por um Guincho tempestuoso e por Sintra, comer travesseiros e queijadas. Nesse dia falto a uma festa em Paris, com muita pena minha. É X. que parte, provavelmente a última do primeiro semestre (logo agora que nos estávamos a dar tão bem, que conversávamos no teu quarto e eu te fazia perguntas de Pediatria no meio de uma risota pegada). É com pena que sei que parte (seria um paradoxo dizer que era com pena que a via partir). Queria que a festa fosse perfeita, convidou imensa gente à plusieurs reprises. Para piorar o panorama, a sua festa de aniversário realizar-se-ia em Lisboa logo no dia imediato ao do meu regresso ao 14ème.
No Sábado, passeio até Lagoa de Albufeira e Sesimbra. Nuvens, muito vento. Nessa noite reencontro a Ana , a Cátia e o Nelson. Rever a Avenida da Liberdade, o Largo de Camões, a Rua Garrett, os Armazéns, os Armazéns onde passávamos horas de ócio depois das aulas. Feliz reencontro! Apelei à criatividade para o outfit, visto quase toda a minha roupa decente estar num armário de portas verde-alface a muitos quilómetros dali. Depois de muita indecisão, decidimos jantar num indiano. Partilham-se muitas histórias, muitas novidades. A despedida custou. Eu e Ana seguimos para o Bairro Alto, tão vazio e tranquilo nessa noite, vamos para o bar da passagem de ano! "Imperial a 1 euro" diz um affichage na porta... Parece de borla após um mês e meio numa cidade onde o dinheiro se desfaz a uma velocidade alucinante! O Nelson perde o último autocarro para o seu fim-do-mundo, vem ter connosco. Ana vai embora. Voltamos para o bar e conversamos. Quando o bar fecha descemos até perto de Santos para comer. Algum tempo depois junta-se a nós o Zé Carlos, que eu já perdera a esperança de reencontrar. Mas reencontro. E a despedida custou. Vejo a cidade a ficar muito clara, aqui amanhece tão cedo, tanta luz, é tão bonito! Luz, luz, luz. O céu está tão azul e tão claro! Durmo menos de seis horas: almoço de Páscoa. Uma tarde inteira a comer, basicamente.
No dia seguinte acordo mais tarde que o suposto, arranjo-me, o pai vem buscar-me e vão por-me ao aeroporto. Devoro Morte em Veneza (bem mais intelectual que as deliciosas futilidades da FHM comprada dentro de um pequeno orçamento de trocos para a viagem de ida), apesar do miudinho irritante que me calhou no lugar ao lado. A viagem parece demorar eternidades, a tripulação avisa Orly e nem sinais dele. Enfim, Paris. Sair do avião, sair do aeroporto, voltar para casa! (O que é voltar para casa, afinal?) Perco o autocarro, espero pelo próximo enquanto escurece. A viagem de autocarro parece longa, longa, longa. Montsouris! Je descends! Falta-me ainda descer o boulevard deserto sobre um pavimento molhado e sob um céu escuro. Entro pelos portões principais, é uma visão triste de uma Cité em lundi de Pâques. A Maison Internationale fechada, às escuras! Apresso-me até à Résidence André de Gouveia, chego enfim!
Reencontro meu quarto, ao jantar reencontro pessoas... M. e os pais, N., S., C., D., M... Depois do jantar tenho de trabalhar, mas a vontade é nenhuma. Um trabalho para entregar na quinta e praticamente nada ainda feito. Perco-me em conversas e convívio. Regresso a uma casa onde se discute o novo Acordo Ortográfico. Distribuo queijadas de Sintra que me lembrei de trazer. C. e D., brasileiros, gostam, C. repete. Trocam-se novidades do fim-de-semana, a casa esteve praticamente vazia nestes dias, fala-se da festa de X. Nevou em Paris, se bem que uma nevezinha débil. M. diz que os tios delas (leia-se Professores Bernardo e Buescu) se lembram de mim e me tecem breves elogios. J. agradece a queijada, interessa-se pelo meu fim-de-semana em terras lusas. Rimos com coisas parvas. Diz querer ler alguma coisa minha quando sabe que escrevo. Isto leva-me a uma preocupação pois verifico no quarto que um caderno que esperava encontrar não está lá, depois de também não o ter encontrado no meu quarto em Portugal. Informo-o da existência de um palácio que pertenceu aos segundos imperadores do México no local para onde vai viajar, ele sabe o meu interesse por essas figuras, diz-me que o irá visitar. Empresto-lhe 2 euros para a máquina de lavar, em troca recebo um bilhete para o cinema. E no dia seguinte ainda os 2 euros. (S. acaba de fazer comentários porcos a esta situação, quando a visitei a ela e a M. na cave, onde estavam a trabalhar.)
"Regresso às aulas", a minha prioridade é agora terminar o estúpido trabalho. Poucas horas de sono, aulas sêchées. Mas agora está feito. Depois de muito stress, está feito. Aqui ao lado, cinco páginas impressas perfeitíssimas e agrafadas no canto superior esquerdo. Hoje à tarde fiz café de M. na cafeteira também de M. fruto de generoso empréstimo e conselho dela mesma. Fiz café quando cheguei a casa, fui depois para a biblioteca do Collège d'Espagne com A. e D. Rendeu. Terminei-o há bocado, já está, já está! Porque ontem diga-se que a produção não foi das melhores, o stress desconcentrava-me. Fui à Maison Internationale com M. levantar dinheiro e fazer um depósito, depois à La Poste trocar dinheiro, depois lavámos roupa (para à noite verificar que tinha deixado um saco com roupa por lavar no quarto). Gosto de M., gosto mesmo: era a pessoa na casa que eu mais queria voltar a ver enquanto estive em Portugal. Enquanto nessas andanças, aproveito para visitar o Foyer e ver a decoração que X. tinha feito para a festa. Surpreendeu-me. Pela criatividade, pela intensidade. Dezenas de fotos que registavam diversos momentos da estada dela cobriam as paredes, cada uma sobre um quadrado de cartolina colorida. Encontrei-me em três ou quatro: numa com ela e V. numa discoteca da avenue des Champs-Elysées, as outras numa festa de aniversário do fim-de-semana anterior. Em lugar de destaque uma citação de Hemingway sobre viver em Paris enquanto se é jovem. Ela queria que a decoração ficasse. No que depender de mim, ficará.
Agora é tarde, tenho de dormir. Amanhã começo a tratar das outras prioridades, só preciso de uns momentos sem pensar em nada. Pelo menos em nada que tenha a ver datas de testes e entregas de trabalhos. Anseio pelo final do dia de amanhã. Tenho de gastar o bilhete de cinema. Talvez até vá a Ruão no fim-de-semana. (E tenho de começar a pensar em ver coisas para um teste na quinta...) Não! Em nada. Em nada.
Sempre vosso,
le Chevalier.
PS - Já recebi a minha parte das heranças de X. Um copo, quatro talheres.

1 commentaire:

Anonyme a dit…

Acho q devíamos ter sido mencionados apenas como A., C, e N. Mas gostei muito na mesma, claro. :)
E lembrei-me duma música, o Lisboa que Amanhece enquanto lia a parte que nos era dedicada. E de outra também, um poema do Eugénio de Andrade que deixo aqui:

Alguém diz com lentidão:
"Lisboa, sabes..."
Eu sei, é uma rapariga
Descalça e leve.
Um vento súbito e claro
Nos cabelos,
Algumas rugas finas
A espreitar-lhe os olhos,
A solidão aberta
Nos lábios e nos dedos,
Descendo degraus
E degraus
E degraus até ao rio


Adoro-te mto, meu pequenino gigante, volta depresssa!


Beijos enormes,
Aninhas