Chove e Catherine Siroux tem saudades do sol. Não daquele sol débil que mal chega a aquecer para sucumbir de seguida ao cinzento das nuvens, mas do verdadeiro sol, aquele que conheceu na infância. Catherine viveu na Nova Caledónia e desse sol que tem saudades.
Quando chegou a Paris, depois de anos a viver em locais mais quentes, ficou maravilhada. Ainda se lembra bem de como estava encantada. Paris estava coberta de neve, algo deveras entusiasmante para a miúda que era.
Às vezes sonha com a Nova Caledónia e a Reunião. Às vezes acordada. Deita-se na cama, fecha os olhos e parece-lhe estar a ouvir o mar e as aves locais. Veste um vestido cor-de-rosa e as cortinas cor-de-laranja tentam proteger o quarto do sol do meio-dia. Sabe que dentro em pouco vai ouvir a mãe a chamá-la para almoçar, já sente o cheiro. Catherine tem nove anos e sabe que nasceu na zona de Paris, apesar de não se lembrar de nada. A irmã é ainda uma adolescente e sai para ir à piscina de uma amiga. Os pais têm sempre tempo para ela e é feliz, na maneira feliz das crianças serem felizes.
Chove, chove, chove. Chove tanto em Paris, está sempre frio em Paris. Os seus amigos gozam com o facto de ela tremer muito mesmo que esteja uma temperatura aceitável. Mas eles não sabem, ela sabe, já viveu na ilha da Reunião e na Nova Caledónia, já vestiu vestidos cor-de-rosa e já foi à praia depois das aulas. Até sabe porque se chama Nova Caledónia a esse território insular da Oceania. Sabe também que lá a vida é mais calma, tem outro ritmo. Sabe que é muito mais que um pedaço de terra marcado no mapa como pertença da França. Lá há sol e há calor. E em Paris chove, chove, chove.
Chove e Catherine Siroux tem saudades do sol.
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